“A política deve ser feita para as pessoas, para os matosinhenses”
Henrique Calisto
O nome de Henrique Calisto dispensa apresentações em Matosinhos: filho da terra, é treinador de futebol há mais de 37 anos e ex-presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos. Aos 63 anos regressa à vida política e ao PS, ao apoiar a candidatura de Luísa Salgueiro à autarquia. Em entrevista ao NM, Henrique Calisto falou sobre as suas perspetivas para o futuro, numa conversa que vagueou livremente entre a política e o futebol.
Notícias Matosinhos: Foi a sua ligação ao Leixões que o levou para o mundo do futebol?
Henrique Calisto: Sim, foi o Leixões, como é evidente. Desde miúdo sou sócio do Leixões, fui jogador, treinador, presidente da assembleia geral. É o meu grande clube do coração, ao qual devo muito. Entretanto estive também sempre ligado à política.
NM: Como é que um homem do desporto, com uma profissão que toma tanto tempo, se liga à política?
HC: Há sempre tempo para tudo. Comecei a estar ligado à política ainda antes do 25 de abril. Podemos ter uma profissão que nos ocupa muito, mas há sempre tempo para o exercício da cidadania, para dizer presente e para contribuir para a construção da nossa terra.
NM: Falando do momento político, porque decidiu apoiar a candidatura da Luísa Salgueiro?
HC: Isto é um processo que foi desencadeado pelo Guilherme Pinto. Numa primeira reunião dos independentes foi decidido que se criariam mecanismos para que quem tivesse saído do PS e quisesse voltar o pudesse fazer. Depois foi dado ao Dr. Guilherme Pinto toda a autonomia para constituir uma lista comum entre PS e independentes. Numa segunda reunião foi comunicado que se tinha chegado a um acordo em que o PS teria a cabeça de lista a Luísa Salgueiro. Aprovado que foi entre os independentes que seria a Dra. Luísa e o Eduardo a encabeçarem a lista, e pela vontade que eu tinha de entrar para o Partido Socialista, entrei. E ao entrar para o PS só tenho duas opções: ou apoio a candidata do partido ou então divirjo. Para divergir fragilizava o PS. Tenho tentado nos últimos dias que haja uma reunião com a distrital, a candidata e o presidente da mesa da concelhia no sentido de se poder apresentar uma candidatura onde Matosinhos esteja unido em torno dessa candidata.
NM: Neste regresso à política, quais são as suas expectativas?
HC: Eu no partido dei sempre o que me pediram e nunca reivindiquei nada para mim. É essa a minha postura na política. Apoio a Luísa sem contrapartidas nenhumas, porque acho que, sendo militante do PS desde 1985, o partido já deu muito a Matosinhos. Matosinhos cresceu por vontade expressa das suas gentes, os partidos sozinhos não fazem nada, isso é uma falácia. Indicam caminhos e depois são as pessoas, o tecido industrial, comercial e as suas iniciativas que promovem o desenvolvimento da terra. Mas o partido socialista está ligado ao desenvolvimento de Matosinhos de uma forma indelével. No pós democracia foi sempre o Partido Socialista que geriu a câmara, à exceção do último mandato. Para o bem e para o mal, e eu acho que mais para bem que mal, o PS está ligado profundamente e de forma umbilical ao desenvolvimento de Matosinhos. Acho que era bom que o Partido Socialista retomasse os destinos de Matosinhos e que desse continuidade ao projeto que foi criado há muito tempo. Mas que seja um projeto diferente, porque cada ano tem desafios diferentes. A Luísa Salgueiro é diferente do Guilherme Pinto, tem outra interpretação. Pode dar continuidade às grandes linhas, mas vai obviamente ter o seu cunho pessoal. A política deve ser feita para as pessoas, para os matosinhenses. Temos que promover a qualidade de vida das pessoas, indo de encontro aos anseios dos vários grupos sociais e económicos.
NM: Voltando à parte desportiva, houve a estreia do vídeo árbitro na final da Taça de Portugal. Na sua opinião, acha que esta inovação vai trazer benefícios?
HC: Traz vantagens e desvantagens. O protocolo do vídeo árbitro focaliza-se em quatro zonas de intervenção: definição de penalty, decisão se é ou não golo, atribuição de vermelhos diretos e enganos de amostragem de cartões vermelhos. Isto retira da discussão pública muitos problemas. Mas há também outros problemas, nomeadamente, a eficácia desse sistema, que tem que ser célere. Mas em termos gerais, e tirando estas nuances, eu acho que vai retirar da discussão alguns casos e isso já é bom para que o clima de discussão seja mais sereno.
NM: Que mensagem final quer deixar aos jovens matosinhenses que praticam futebol?
HC: Temos consciência que a formação só no campo desportivo é insuficiente. Porque ao patamar de excelência chegam muito poucos. E hoje os ordenados que se auferem nas divisões secundárias, e até na primeira divisão, não são suficientes para depois construir uma vida pós futebol. O concelho que eu dou é que é necessário investir na formação dual: académica e profissional. E que façam desporto, porque é uma vertente importante da nossa formação integral.